A relação cultural Brasil-África têm muita história, e de longa data.
Trazidos nos navios negreiros... palavras, música, culinária, cultos, sonhos, revoltas e lutas ganharam nossa Terra Brasilis.
O Brasil teve assim sua história completamente transformada, num amálgama indígena-europeu-africano.
500 e tantos anos se passaram, e atualmente nossa população tem mais de 50% de afro-descendentes.
Nos últimos 50 anos, os contatos Brasil-África só aumentaram: escritores, músicos, ativistas políticos, pintores cruzaram o oceano para continuar a trocar conhecimento, sonhar e realizar juntos.
Menos nos Quadrinhos. Se não passasse pela França, nós mal saberíamos o que era feito na dita "bande-déssinée africaine".
Mas isto começou a mudar!
Em 2008 o quadrinhista e fanzineiro paraense Eduardo Pinto Barbier -que vive na França- foi convidado para a primeira edição do Festival Internacional de Quadrinhos da Argélia (Fibda).
Ele foi pioneiro neste contato cultural entre Brasil e África, no campo dos Quadrinhos.
Outro brasileiro a participar do Fibda neste ano, foi Marcelo D'salete.
Em 2009 a revista "La Bouche du Monde" -publicada por Eduardo Barbier em francês- fez parte da seleção oficial do Fibda e em 2011 ganhou como Melhor Fanzine.
No Brasil, a professora e pesquisadora Sonia Luyten foi curadora da Mostra de Quadrinhos Africanos no Museu Afro, em SP, em 2009 (19 artistas de 16 países) e 2010 (exclusiva do Picha).
Em 2010 é lançado o livro “Afro HQ: História e Cultura Afro-brasileira e Africana em Quadrinhos”, de autoria de Danielle Jaimes, Roberta Cirne e Amaro Braga
Eduardo Barbier apresenta Bira Dantas a Dalila Nadjen, presidente do Fibda, durante o festival de Angouleme na França, em 2011.
Em 2011, a L&PM Editores publica o álbum de Quadrinhos Aya (Costa do Marfim) de Marguerite Abouet e Clément Oubrerie.
André Diniz e Mauricio Hora lançam "Morro da Favela". O quadrinhista lançou também "Negrinho do Pastoreio" e "O Quilombo Orum Aiê".
Em 2012, o jornalista e cartunista Mauricio Pestana lança a coleção "Mãe África" e o cartunista Bira é selecionado no Fibda.
Em 2013 seu D.Quixote é indicado na categoria Melhor Projeto do festival argelino.
O cartunista foi convidado a Argélia, onde lançou seu BiraZine 2 com legendas em francês.
Neste mesmo ano, o quadrinhista congolês Jérémie Nsingi vem ao Brasil, a convite do FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos de BH).
2014: o Brasil foi o país homenageado do Fibda e Bira fez parte do juri de premiação.
O festival teve um estande só do Brasil com:
- Linha do tempo "145 anos de Quadrinhos brasileiros" (montada por Bira e Laurent Melikian).
- Quadrinhos brazucas com Bira, André Diniz, Ana Luiza Koehler, Rafael Coutinho, Fábio Moon e Gabriel Bá (organizado por Eduardo Barbier).
- Mauricio de Sousa e seus Quadrinhos, Quadrões e Esculturas (montado por Jacqueline Mouradian, presente no festival com Bira, Fábio e Gabriel).
Pela primeira vez a ministra da cultura participa da abertura e o embaixador brasileiro também.
Neste ano, Marcelo D'salete lança "Cumbe" projeto de Quadrinhos com raízes africanas, aprovado pelo edital paulista ProaC.
2015: o Memorial da América Latina abre -mais uma vez- as portas para a AQC entregar o Troféu Angelo Agostini.
E desta vez com a exposição Brasil- África. Jérémie Nsingi é nossa estrela internacional, ele volta ao Brasil para falar -com Marcelo D'salete, Sonia Luyten e Gabriel Bá- do mercado africano, do Fibda. O congolês é o curador da exposição de quadrinhistas africanos, com trabalhos de Pahé (Gabão), Georges Pondy, Youmbi Narcisse, Kangol, Bibi e Joelle Ebongue (Camarões), Gihèn (Tunísia), Benjamin Kouadio (Costa do Marfim), Mokdad Amirouche (Argélia), Didier Kasai (República centro-africana), Massiré Tounkara (Mali), Brahim Rais e Omar Ennaciri ABIME (Marrocos), Sylvestre (Burkina Faso), Popa (Tanzânia), Dwa de Eric (Madagascar) e Al Mata (Congo).
E também os brasileiros Marcelo D'salete, Flavio Luiz, André Diniz, Pestana, Junião, Pedro Franz, Marcos Franco, Hélcio Rogério, Alisson Affonso, Eloyr Pacheco, Fernando Damasio, Janio Garcia, Alves, Bira Dantas, Orlando Pedroso.
Brasil e África...
Um país-continente e um continente-irmão.
Oxalá, esperamos que os mercados de Quadrinhos se abram entre nós e apertem os laços que Eduardo começou a atar em 2008.