FIM DO SITE BIGORNA
(Bira Dantas)
Desde maio de 2006, até maio de 2011, escrevi 70 artigos falando de Quadrinhos, Cartuns, Política, Música, Ensino e tantas outras coisas em minha coluna Birazine. Gentilmente convidado por Eloyr Pacheco, criador de um dos sites mais democráticos da web.
Durante 5 anos, arregacei mangas para teorizar sobre minhas experiências nacionais e internacionais na área do cartum e da caricatura.
Tive o apoio do super-competente (e paciente) Humberto Yashima, que editou e diagramou até bate-papos virtuais, como na minha produção de O Ateneu em Quadrinhos, junto com Ronaldo Antonelli e os palpites de João Antonio Buhrer, Nei Lima e Vilachã.
http://www.bigorna.net/index.php?secao=birazine&id=1244422722
Quando o Eloyr passou o site para o cartunista Marcio Baraldi tocar, achei que estava em boas maos.
Baraldi alem de parceiro na luta e defesa do Quadrinho Nacional tem uma disposição danada para viabilizar projeto pessoais (como seus vários livros de HQ, sucessos de vendas), como o Festao do Baraldao e o Trofeu Bigorna. Ele também foi um dos grandes apoiadores e defensores do Trofeu Angelo Agostini e da AQC-SP.
Foi uma grande surpresa quando li o artigo do Baraldi:
"Bigorna suspende atividades"
29/05/2011
http://www.bigorna.net/index.php?secao=artigos&id=1306717371
Eu compreendo a bronca do Baraldi, um descontentamento pela situação dos Quadrinhos brasileiros nas BANCAS.
Mas ele nao pode generalizar esta critica para o mercado como um todo ou ainda, desmerecer o trabalho de brasileiros no mercado norte-americano.
Entendo que ele deve estar sobrecarregado ("ninguém mais aqui tem tempo para o site"), e como os personagens que incorpora, não poderia sair da chefia do site Bigorna (posição que ele desempenhou muito bem, desde que Eloyr e Humberto Yashima lhe passaram o bastão) à francesa. Por isso um artigo de despedida "daqueles", digno do seu alter-ego, o ex-apresentador de programa Banca dos Quadrinhos.
Eu entendo a postura do Baraldi ao escrever um artigo de despedida tão grandeloqüente, repleto de críticas ao mercado consumidor, editor e produtor de Quadrinhos.
Porém discordo frontalmento do cenário de "desmoronamento" que foi desenhado ali...
Na mesma página inicial do Bigorna vemos que o Baraldi está preparando o lançamento de dois livros em Quadrinhos: "RAP DEZ" e "Euriko".
Até porque o mercado consumidor de Quadrinhos já migrou para as livrarias e internet há muito tempo.
Eu tenho publicado uma adaptação literária por ano, pela Escala Educacional (estou indo pro quarto título), publico tiras do Tatu-man há 6 meses no Correio Popular de Campinas, publico charges e tiras em 5 jornais sindicais (Sinergia, Sindipetro SP e NF, Sindae e FUP) publico caricaturas no Blog do TEX e nos vários outros que mantenho na WEB.
Tenho visto nomes como Zé Aguiar, Caeto, Raphael Albuquerque, Spacca, Custódio, Mutarelli, entre dezenas de outros, publicando seus livros por editoras que pipocam do Oiapoque ao Chuí.
Isso é um mercado desmorando?
Eu não acho.
Acho que é um mercado em mutação.
É claro que se pudéssemos ver todo esse material nas bancas seria uma maravilha.
Mas pra quem?
Pros nossos próprios olhos?
Pros nossos umbigos?
Simplesmente porque, exceto os autores, seus familiares, colegas de categoria e colecionadores, ninguém iria comprar.
Só sobrou Mauricio de Souza nas bancas porque é só isso que o público que vai até a nossa velha companheira, quer comprar.
O que o Mauricio tem mais que o Ziraldo?
Nada.
Ziraldo é um cartunista de sucesso, com fama internacional, empreendedor criativo, excelente criador de personagens, ótimo editor, tem nome e suas seções de autógrafos criam filas com milhares de pessoas.
Por que Menino Maluquinho e suas outras revistas pararam de vender na banca?
Como canta Nando Reis: "NÃO TEM EXPLICAÇÃO."
A culpa não é do Ziraldo, nem da equipe que fazia o gibi, nem da editora Globo, nem do dono da banca, a culpa é do leitor que não quis mais comprar gibi, oras. Maurício foi mais competente para continuar singrando os mares. Foi e merece todos elogios rasgados que Baraldi fez a ele.
SOLAMENTE MAURICIO?
Epa, o nobre guerreiro dos Quadrinhos, Tony Fernandes, mantem sua revista "Apache" nas bancas, e deve invadi-las com uma revista de Cartuns. E a revista MAD, que agrupa um ótimo time (Baraldi incluso) de cartunistas brasileiros, veteranos e novatos?
LBQ
Quando publiquei Memórias de um Sargento de Milícias (com Indigo, Maurilio e Caio) estava doido pra ver nas bancas. A coleção da Escala Educacional (com Vilachã, Josmar e Ronaldo Antonelli) era vendida lá, no meu paraíso de sempre. Em 1977, com 13 anos eu trabalhei numa banca, entregando jornal e tomando conta da dita cuja. Eu tinha uma cota dos gibis que sobrassem, além da coleção Mitologia da Abril e de um parco salário. Em 1980, quando desenhei os Trapalhões para a Bloch, era lá que eu encontrava minhas HQs publicadas. Em 1988 a Tralha (onde participei com Marcatti, Mutarelli, Baraldi, Gualberto e Glauco Mattoso) foi pras bancas de todo o país. Em 2005, estava crente que era lá que as pessoas iria adquirir seu exemplar. Foi quando a editora avisou que a coleção Literatura Brasileira em Quadrinhos seria vendida diretamente nas Escolas. Só uma pequena parte da edição foi pras livrarias.
O motivo era evidente. Distribuídos em todo o Brasil, o encalhe foi gigantesco, já as escolas lutavam para ter as revistas em suas dependências.
Meu Dom Quixote teve 80.000 exemplares, já está na segunda impressão.
Não acho que isso seja um desmoronamento.
Entendo os motivos para o Baraldi congelar o site, mas não concordo com a frase:
"É uma vergonha que seja preciso que um animador brasileiro vá trabalhar num conglomerado dos EUA para fazer um filme sobre araras do Rio de Janeiro, quando deveríamos fazer zilhões de animações sobre nossa própria fauna e cultura aqui dentro do Brasil mesmo"
O Núcleo de Cinema de Animação de Campinas fez filmes até com a colônia Guarani que vive numa Area de Proteção Ambiental de São Paulo. O Anima Mundi apresenta dezenas de animações brasileiras que falam de tudo, até da nossa fauna e flora. Não são longa-metragens, não são super-produções, mas estão aí na internet.
Assim como dezenas de sites de Tiras em Quadrinhos, que viram livros, vendidos (e esgotados pela) web.
As pessoas não querem mais comprar gibis nas bancas.
É uma pena, mas é a realidade.
Vamos ficar parados?
Nem um minuto!
Taí o Quarto Mundo que não me deixa mentir.
Mercado de Quadrinhos quem cria somos nós!
Nossa força -e traço- é nossa voz!