TURMA DO BARULHO: UM FURACÃO QUE CHACOALHOU AS HQ INFANTIS
TENTOU-SE DE TUDO
BIBLIOGRAFIA E AGRADECIMENTOS:
• www.tonyfernandespegasus.blogspot.com
• acervo.folha.com.br
Turma da Fofura, Os Trapalhões, Fofão, TV Colosso, Menino
Maluquinho, Senninha... durante dez anos, foram inúmeras as tentativas da
Editora Abril de substituir os personagens de Maurício de Sousa. Afinal, ao
sair da casa em 1987, Maurício não só levou suas criações para a Editora Globo,
como também seu enorme faturamento em bancas. E abriu um buraco nas finanças da
editora.
Para os quadrinhistas foi excelente, pois abriu espaço para
que eles mostrassem suas criações.
Isso encorajou o desenhista Jótah em parceria com a produtora e colorista Sany (experts
em desenhos infantis, tendo participado com animações para o programa
Rá-Tim-Bum da TV Cultura, revistas da LBV, ilustracões para livros didáticos e
jogos infantis) a entregar em 1993, um projeto de uma nova hq para a Abril. E acabou
engrossando a fila de candidatos à vaga de Maurício na casa.
UMA EXPLOSÃO NAS
BANCAS
E assim, no mês de abril de 1996, chegou às bancas o primeiro número da TURMA DO BARULHO,
a mais ousada, irreverente, anárquica e divertida hq infantil (ou pré-adolescente)
já criada no Brasil. Uma ousadia que, comparando, fez com que as outras hqs
infantis parecessem histórias da carochinha. Talvez por isso seu projeto tenha
ficado 4 anos nas gavetas do Grupo Abril. Foi a última tentativa da Abril Jovem
com hqs nacionais. Tinha 32 páginas coloridas e saiu com tiragem de 30 mil
exemplares.
As histórias giravam em torno do dia-a-dia de uma turma na
escola, só que mostradas por outro ângulo, poucas vezes adotado pelas hqs
infantis. A gíria, o palavrão, a pixação nos muros, o costume de “matar aula e colar
na prova, o builling sofrido e também praticado, a turma do fundão, o
piercing, o “pum” em sala de aula, o "te pego lá fora", as brigas e
rixas entre turmas, a paixão por video games, a loira do banheiro. Enfim, tudo de
bom ou ruim que fez e faz parte da infância de qualquer criança estava lá, com
muito bom humor.
Jótah teve a coragem de não só mostrar o universo lúdico da
criança, mas também o seu lado mais humano, sarcástico, rebelde. Qual criança
na vida nunca caçoou de outra ou mesmo falou um palavrão?
A TURMA DO BARULHO: da esquerda para a direita: Bob, Tóbi,
Carol, Kid Bestão, Milu e Babi
Carol, Kid Bestão, Milu e Babi
ADOLESCENTES AOS 10 ANOS
Os personagens da TURMA DO BARULHO tinham os hormônios à
flor da pele e refletiam uma geração que entrava na adolescência mais cedo.
Várias situações foram criadas nas histórias para mostrar o comportamento dessa nova geração. Duas meninas (Milu e
Babi) já estão querendo namorar e se apaixonam perdidamente por qualquer
representante do sexo masculino. Os meninos espiam as mulheres se trocando ou
tomando banho, e até se atrevem a dar uma espiada por debaixo da mesa, na cor
da calcinha da professora. Travessuras de criança que já despertam para a
sexualidade.
— ISSO NÃO ACONTECE COM A TURMA DAS OUTRAS REVISTAS!!
Raphael Vieira, 9 anos, sobre as histórias se passarem quase todas dentro da escola.
— ISSO NÃO ACONTECE COM A TURMA DAS OUTRAS REVISTAS!!
Raphael Vieira, 9 anos, sobre as histórias se passarem quase todas dentro da escola.
Espiar a menina tomando banho...
ou namoricos que iam além da mãozinha dada...os personagens da Turma do Barulho não eram assexuados.
A PRODUÇÃO
A PRODUÇÃO
Para dar conta da produção das hqs, Jótah montou um estudio
na Rua Direita, no centro de São Paulo e reuniu um time de artistas vindos em sua maioria da animação.
Enrique Valdez e Rosana Valin (hoje nos estúdios MSP),
Jarbas Valin, Tomaz Edson, Jean Okada, Nelson Lima e Paulo Santos, formavam a
equipe que produzia o gibi. Para compor um visual moderno e diferente do
habitual, seus artistas empregaram uma diagramação que valorizava as cenas
soltas, algumas sem requadro e cores contrastantes.
Colocar ou não um brinquinho? Era um dilema da nova geração...
Do desenhista JEAN
OKADA, autor do album Kário, dívida de sangue,
sobre a Turma do Barulho:
sobre a Turma do Barulho:
Participar do gibi da
Turma do Barulho foi uma experiência incrível. Nessa revista pude realizar meu
sonho de participar de uma publicação mensal, ver nas bancas um trabalho em que
eu colaborava... Foi também um gibi onde cada um dos colaboradores colocou
muito de si no projeto, pois a Turma nos fazia trazer à tona muito de nossas
experiências pessoais, com amigos de infância e da escola, pra colocarmos tudo
nas histórias que fazíamos. Acho que conseguimos quebrar algumas barreiras e
fizemos um gibi infantil bem ousado. Fomos o mais longe que nos permitiram ir.
Sou muito grato ao Jótah por essa grande oportunidade!
O LANÇAMENTO
O lançamento do primeiro número foi tumultuado. Uma troca
repentina do papel inicialmente pensando para a impressão do gibi, fez com que os
tons de pele de todos os personagens ficassem muito escuros, quase negros. Realmente,
a cor de pele escolhida seria mais morena, porém, para um papel
de melhor qualidade. Isso só pode ser consertado no número 3, quando
adotou-se uma tonalidade mais clara.
A capa foi mudada diversas vezes ate chegar a sua versao
final. Houve uma certa censura por parte da editora, principalmente no
linguajar dos personagens, pois temiam chocar o publico. Mesmo assim era comum
encontrar expressões como bunda, mijão, boiola, nomes que até hoje só aparecem
nos quadrinhos da MAD.
A partir dessa edição, a tonalidade da pele dos personagens ficou mais clara,
para se adequar à impressão no papel jornal. Compare com a capa do número 1,
no início da matéria.
para se adequar à impressão no papel jornal. Compare com a capa do número 1,
no início da matéria.
Para promover a revista, o estudio produziu, com recurso
próprios, um comercial animado, que foi veiculado no sul do país.
A TV Globo noticiou o lançamento, inclusive com uma
entrevista com seu criador, feita pela jornalista Sandra Annemberg.
Foram destaque no Festival Internacional de Quadrinhos do
HQ MIX, ocorrido no Sesc Pompeia. Ao lado da Turma da Mônica, Senninha e dos
personagens do Cartoon Network, a Turma
do Barulho apareceu no telão em um video clip ao som de uma banda de rock.
— ELES USAM UM VOCABULÁRIO IGUAL AO NOSSO!!
Luíza Ramos, 9 anos
— ELES USAM UM VOCABULÁRIO IGUAL AO NOSSO!!
Luíza Ramos, 9 anos
Esportes radicais como o skate, eram os preferidos da turminha.
Do desenhista TOMAZ EDSON , dono do Estúdio Gibiosfera
sobre a Turma do Barulho:
sobre a Turma do Barulho:
Fui indicado pelo Enrique Valdez
e, acabei produzindo letras e balões.
O Jota alugou uma sala comercial
enorme em um velho edifício na Rua Direita. Era quase um andar inteiro e tinha
pé direito duplo. Muito legal.
Quando li a primeira história e
percebi que os roteiros e desenhos tinham outro pique de humor que não estamos acostumados
a ver em edições infanto juvenis pensei: "Duvido que a Editora Abril vai
publicar essa turma com toda aquela preocupação de politicamente correto e
bláblábla´... "
Enfim, o fato é que o Jota
conseguiu um contrato, marcou época e ganhou uma legião de fãs.
Uma curiosidade técnica: lembro
que boa parte dos profissionais que lá trabalharam vieram da animação e você
sabe que animador de formação, via de regra, tem uma dificuldade enorme em
produzir quadrinhos e adequar os seus desenhos ao formato impresso. Isso não
ocorreu na Turma do Barulho porque o Jota soube muito bem dirigir o pessoal e
padronizar os diferentes traços e estilos dos desenhistas sem que para isso os
desenhos virassem carimbinhos.
Enfim, foi uma época
que me traz boas recordações que fazem parte de minha vida e meu portfólio.
Nessa história publicada no número 1, Babi coloca um sutiã da irmã e já se acha
uma mocinha...
uma mocinha...
— AS OUTRAS REVISTAS SÃO MUITO INFANTIS, POIS NÃO TEM PALAVRÕES!!!!
Flávio Pecelli, 10 anos
A Folhinha de São Paulo destinou a capa e mais quatro
páginas para falar sobre a nova turminha das bancas. O jornalista Thales de
Menezes fez uma bela materia sobre o lançamento e a equipe da Folhinha levou o
gibi para apreciação dos alunos do Colégio Augusto Laranja em São Paulo. As
crianças opinaram e gostaram principalmente da linguagem do gibi, mais próxima
da sua realidade, do dia-a-dia na escola, com suas aprontações, paqueras e
aventuras. O pequeno estudio da Rua Direita passou a receber cartas do Brasil
inteiro. A Turma do Barulho conquistava uma boa parcela do publico infantil.
Cautelosamente, Jótah deixou para fazer o lançamento
oficial da revista só no número 5, periodo em que já se pode saber se o título
“pegou”ou não. Em um pequeno espaço da livraria Melhoramentos, mais de
trezentas pessoas, entre artistas de hqs, e publico em geral, se acotovelavam
para folhear a revista e saber o que a turma estaria aprontando nessa nova
edição. Um sucesso! Teve até apresentação do coral da LBV. Isso foi no domingo.
E DEPOIS, O SILÊNCIO…
No dia seguinte a revista foi cancelada. A Abril Jovem já
estava em crise, o que resultou no seu fechamento no ano seguinte, quando
voltou a ser um departamento dentro do grupo. Muitos títulos foram cancelados e
a Turma do Barulho foi junto. O motivo alegado foram as baixas vendas.
Jótah colocou um advogado para verificar o que havia de
encalhe nos depósitos. Ele foi e retornou dizendo:
—Desculpe, não posso pegar o
seu caso!
Da empresa Character que cuidaria do possível licenciamento
dos personagens veio a seguinte resposta:
—“Você está mexendo com gente grande. É só o que eu posso dizer…
O que realmente aconteceu com
um título que despontava para o sucesso e repentinamente foi cancelado, não se sabe.
Seus personagens ainda tiveram uma sobrevida, através da
pequena Editora Press, de Sérgio e José Guimarães. Com a coordenação e edição
de Carlos Mann, o título foi relançado durante o ano de 1997, com um total de
seis edições.
Jótah continuou a sua carreira e hoje é um dos maiores ilustradores do Brasil, além de ter também vários livros de sua autoria.
Jótah continuou a sua carreira e hoje é um dos maiores ilustradores do Brasil, além de ter também vários livros de sua autoria.
Capa do primeiro número da TURMA DO BARULHO pela Editora PRESS.
— ESSA REVISTA É BEM PARECIDA COM A VIDA REAL!!!
Thiago Nanini, 9 anos
As
histórias também focavam em temas polêmicos, como por exemplo, fumar na
adolescência, sempre mostrando o que era legal e o que não era.
E assim A TURMA DO BARULHO veio, chacoalhou o mercado de
quadrinhos, teve boa aceitação de
publico, causou indignação, revolta e admiração em muita gente, e como um
cometa passou rapidamente e desapareceu. Dificilmente é mencionada em premiações ou mesmo em publicações que tratam da história da hq brasileira.
Curiosamente na mesma época, a banda Mamonas Assassinas, causava
a mesma indignação ao fazer crianças e jovens de todo o Brasil cantarem frases como “Oh Maria, essa suruba
me excita”. Sua curtíssima carreira terminou quando um acidente
aéreo matou
todos os seus integrantes. E tal e qual o gibi também marcou época. Os
dois, o grupo musical e o gibi tinham um único propósito: DIVERTIR!
O mundo estava mudando, mas a mídia foi perceber isso algum
tempo depois.
Hoje, alguns quadrinhos já dialogam com uma nova criança,
antenada, conectada com o mundo…
Um “pequeno adulto”, como bem disse Maurício de
Sousa, em entrevista a Fernando Vives da revista Carta Capital.
A Turma do Barulho sacou tudo isso lá em 1996.
Com uma visao mais sarcástica e bem humorada,
trouxe para as bancas a galera que está aí hoje.
Uma pena, porque...
...talvez fosse cedo demais.
Ficou curioso e quer ler os quadrinhos da TURMA DO BARULHO?
Procure nesses endereços…pode ser que você encontre uma ou
mais edições.
http://www.maniadegibi.com/loja/
http://www.guiadosquadrinhos.com/
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PARA CONHECER MAIS SOBRE JÓTAH, O CRIADOR DA TURMA DO BARULHO:
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BIBLIOGRAFIA E AGRADECIMENTOS:
• Capa do número 1, restaurada pelo fã Felipe S. Borges.
• Trechos de entrevistas realizadas pelos jornalistas
Thales de Menezes e Maristella do Valle para a Folhinha de São Paulo, edição
1706, de 10 de maio de 1996.• www.tonyfernandespegasus.blogspot.com
• acervo.folha.com.br