1. Como você conheceu o trabalho do Henfil?
Foi no início da década de 70. Adolescente, de família e colégio politizado, sempre esperava ansioso O Pasquim que era lido e compartilhado com os colegas da escola.
2. Qual foi o impacto inicial?
Foi como um contra-ponto das longas análises econômicas ou sociais dos longos textos que se conseguia ler (Caio Prado, Graciliano Ramos, etc..). Era uma coisa moderna, cheirava a novo. O humor sério fazia contra-ponto com o humor de galhofa que era comum na época. Henfil fazia a crítica social e econômica, clara, resumida, em poucos traços ágeis que conseguia driblar a censura prévia a que todas as publicações estavam sujeitas na época
3. O que chamou mais atenção o humor escrito, as gags visuais ou o traço?
O traço simples (que nós, moleques, conseguíamos copiar) e o texto quase telegráfico, mas completo, cheio de crítica.
4. Seu trabalho teve alguma influência?
Não percebo.
5. Qual foi a impacto dos Quadrinhos e Charges do Henfil na Imprensa Sindical e na Esquerda?
No movimento sindical não tenho condição de analisar. Mas na Esquerda, definitivamente, ajudou a tirar ranço sério e chato, compreensível pela situação que a ditadura impunha, que tinha a esquerda da década de 70.
E entre seus amigos?
Ajudou-nos a entender que o humor pode ser sério e que mesmo em situação tão grave como se vivia na ditadura militar, havia espaço para rir. Mesmo que fosse vendo o Fradim fazendo top-top para a gente.
Quais eram os comentários das pessoas?
“O Henfil é foda!”
6. Acompanhava as entrevistas do Henfil na Imprensa?
Sim.
Teve alguma que lhe marcou?
Uma desenho o Orelana e a Graúna no ombro do Zeferino de costas, olhando para o horizonte dizento “Há uma esperança”
Porquê?
Era o final da década de 70, ou início de 80 e se antevia a possibilidade do fim da ditadura
7. O que achou da iniciativa da Editora Noir em reunir estas entrevistas em um livro?
Ótimo!
Que efeito acha que este livro terá em você e nos demais leitores?
Um registro histórico importante que trará reflexões sobre a atual situação política, econômica e social de hoje, que de certa forma tem muito em comum com a da época do surgimento de Henfil e seus personagens
8. Conheceu o Henfil multimídia, atuando na TV e no Cinema?
Pouco acompanhei essa faceta do Henfil. Fui um voraz consumidor do Henfil no papel.
9. Pra você, qual é o tamanho da falta que Henfil faz?
É uma falta sem dimensão. Infinita.
10. As novas gerações conhecem pouco do trabalho do Henfil. O livro organizado pelo Gonçalo Jr pode ajudar a mudar esse panorama?
Sim. Tudo que relembrar Henfil, além de satisfazer os velhos, fará com que os jovens percebam a dimensão universal e atemporal de sua obra. Henfil é uma espécie de Quino brasileiro.
11. O Brasil hoje está 'sick da vida' com tantos ataques à democracia, à inclusão social, racial e de gênero, à distribuição de renda. A coisa precisa piorar mais pro povo reagir?
Não.
12. Como Henfil estaria reagindo à sanha fascista, totalitária e anti-democrática que abocanhou os três poderes?
Gosto de acreditar que se Henfil ainda desenhasse nos dias de hoje, teria criado um militar fascista, um político miliciano e, certamente, um pastor louco!
13. Henfil foi um dos fundadores do PT, que se propunha a transformar radicalmente a sociedade. Esta décima terceira pergunta é o espaço pra suas considerações, não finais, mas futuristas. É possível ainda transformar o país de forma radical?
Apesar de difícil, o PT provou que é possível modificar o país e diminuir a indecente concentração de renda. Apesar de não ter dado conta da reação da “elite” econômica e ter sucumbido, ao meu ver, com muita mansidão ao golpe de 2016, ainda há espaço para avançar e formar novas lideranças progressistas dentro do próprio PT. Afinal, por mlelhor que seja, Lula não é eterno.
O humor entra nisso?
O Humor está em nós.
Vocês (Bira e seus colegas cartunistas) só ajudam a nós -seres rudes e insensíveis de tanto calo nas costas- a percebermos melhor a divindade do Humor que está em tudo e em todos.
Forte abraço, meu amigo (e parceiro de uma charge!!).
Saudades.
Nilson Borlina Maia é Engenheiro Agrônomo (ESALQ 1981). Mestre e Doutor em Solos e Nutrição de Plantas
Especialista em destilação e produção de óleos essenciais de Plantas Aromáticas.
Sócio Fundador da Linax Óleos Essenciais – Direção Científica
Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas – Seção de Plantas Aromáticas e Medicinais. 1988-2019
Professor de Ecologia PUCAMP 2000-2001
Professor de Ecologia da PUC – SP 1995-2002
Pesquisador Embrapa- Programa Energia 1985-1988
Centro de Tecnologia Copersucar 1982-1985
Detalhe: a foto de perfil de Nilson Maia no Facebook é a Graúna, personagem imortal de Henfil, o apelido do Nilson na ESALQ era Fubeca e o colega de ESALQ Luiz Rangel cometeu o desatino de deixar sua rara coleção de Fradins, que agora vai presentear o cartunista e amigo Bira.
https://www.facebook.com/nilson.maia.54